terça-feira, 25 de dezembro de 2007

So THIS is Christmas

O frenesim de sempre, as lamúrias de que o Natal já não é o que era, que o consumismo isto e o espírito natalício aquilo, a desilusão com que se fala das tradições perdidas, porque há uns anos era melhor. Antes era sempre melhor, mesmo que na verdade não o fosse, porque o tempo tem este poder. Há quem pense que o tempo é pó, rugas e trocar o nome aos filhos e netos, mas o tempo é exactamente o contrário. O tempo pega nas nossas memórias e faz-lhes liftings, plásticas e lipo-aspirações, transformando vigaristas em bons pais de família, tropeções em mortais encarpados, e jantares em banquetes. Talvez na altura fossem realmente bons pais de família, mortais e banquetes, mas antes, coitados, não o poderiam ser, porque havia sempre um "antes é que era" pronto a lembrar ao presente que precisava de esperar o seu lugar no tempo para existir. Que, no fundo, precisava de deixar de ser para conseguir ser alguma coisa. Parménides explica. Ele, ou Freud.

É sempre a mesma coisa. 20,21,22. 23, Aproximam-se os dias, e com eles um misto de ansiedade e curiosidade invasivo, cheio de vontade de se materializar num "antes é que era". Mas eis que, repentinamente, num simples jantar no dia 24, que parece distar um século do que veio com o sol anterior, aquela sensação de alegria, partilha e tranquilidade, que julgávamos perdida e abandonada no baú da nossa felicidade, conquista-nos novamente. E, se dúvidas restassem, a Missa do Galo faz questão de relembrar aos mais cépticos, ainda que por dois dias apenas, que o Natal ainda é o que era. As queixas, essas, ficam para os outros 363 dias do ano.

No meu caso, o "antes é que era" viu desde cedo que não tinha hipóteses. Não obstante, ainda tentou, do alto da sua teimosia e sobranceria, dizer de sua justiça, mas achou, e achou muito bem, que era melhor sair de cena, ao ver a pujança e determinação do "agora é que foi", qual cantor que se apercebe finalmente do cansaço na voz.

E é só isto, este é o meu SMS de Natal. Um Bom Natal (peço-vos que imaginem esta frase com a entoação, não da minha pessoa, mas daquele locutor da RFM, o que diz: "RFM, só grandes músicas". Muito mais natalício).

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