sábado, 15 de dezembro de 2007

Confieso que te envidio

Leio a auto-biografia de Neruda, e à medida que as páginas avançam, cresce em mim o sentimento da dúvida. Dúvida, se o inveje, se o admire.

Neruda é das poucas pessoas com que me cruzei que, à medida que o vou conhecendo, me desperta um enorme sentimento de inveja. E digo conhecer sem qualquer tipo de pretensiosismo barato, porque se pode conhecer o artista pelo contacto com a obra, sobretudo se a obra for o artista, que é o caso.

E invejo-o porque me transmite a sensação que escreve, não com uma caneta convencial, mas com uma que encontrou algures num vericueto de Rangoon ou Valparaiso (que melhor lugar que Valparaiso para encontrar tal instrumento), onde condensou todas as cores, sabores e texturas do Mundo. Quer dizer, por isso admiro-o. Invejo-o, e não invejo quase ninguém, fruto talvez de um narcisismo latente dentro de mim, por saber que para chegar sequer perto donde ele chegou, tenho de pedalar muito. muito não, imenso. imenso não, Herculeamente.

Invejo-te, Pablo Neruda, e trato-te por tu confiante que 200 páginas da tua vida são suficientes para não estarmos com cerimónias, por saber que não fazes mais que jogar com palavras e sensações, e por saber que fazes mais, muito mais, do que jogar com elas.

E rio-me, ao mesmo tempo que te aplaudo, por saber que até o teu nome conseguiste transformar em algo de etéreo, como se Neftalí Reyes fosse um diamante em bruto, selvagem e indomável, à espera de se converter em Pablo Neruda.

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