terça-feira, 27 de novembro de 2007

On the smooth side



A voz desta canadiana, Leslie Feist de seu nome, consegue ser expressão do movimento do seu corpo, corpo esse, ou voz, ou corpo e voz, que assumem com a mesma facilidade uma atitude sensual e provocante ou descontraída e joyful. Esta música é da segunda...postura, a primeira virá depois. Nem sempre o segundo CD tem de ser pior que o primeiro.



Um personal favorite. Joe Dukie, a voz de Fat Freddy's Drop, aqui com Eva Be. É daquelas músicas -que são poucas- que se têm de ouvir pelo menos quatro vezes: uma pela letra, outra pela voz, outra pelo ritmo, e outra para juntar tudo.



Au Revoir Simone, uma das revelações da indie scene, composta por 3 new yorkers e 3 teclados. Apadrinhadas por David Lynch, estarão em Dezembro em Lisboa, no Santiago Alquimista.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Vede

EE
NTEQEE


isto é tudo aquilo que o meu egoísmo permite partilhar.

easyjettin'

16 amigos que decidem dar dinheiro para sortear uma viagem para um sítio desconhecido do vencedor: 160 euros

Lanche e jantar para 16 pessoas, enquanto acompanhamento do sorteio: Perguntar ao Bernas

O relato de um fim-de-semana em Bristol: Priceless

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Egoísmo comunista

Enzo Rossi é italiano (esta era óbvia). Enzo Rossi é dono da Campofilone, marca de maccheroncini. Enzo Rossi experimentou viver durante um mês com o salário que paga aos seus empregados. O salário que Enzo Rossi paga aos seus empregados é de 1000 euros por mês. Enzo Rossi poupou como nunca poupou na vida. Enzo Rossi chegou ao dia 20, e ficou sem dinheiro. Enzo Rossi aumentou o salário dos seus trabalhadores em 20%. Perguntaram a Enzo Rossi se era comunista. Enzo Rossi respondeu que não, que era de direita, e extremamente egoísta. Enzo Rossi subiu os salários, não tanto por se preocupar com o bem-estar dos operários, mas mais por se preocupar com o seu. Enzo Rossi tomou essa medida porque com um salário maior, diz ele, a produtividade dos seus empregados aumenta, e com mais dinheiro para gastar, podem comprar mais maccheroncini. Enzo Rossi é o que se convenciona chamar um granda boss. Em italiano, un grandi patroni.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Influentia portucalis

Conclui-se facilmente que J.K. Rowling, a autora de Harry Potter, escreveu parte da obra em Portugal, quando os instrumentos que os heróis têm à sua disposição para mudar o mundo são nada mais, nada menos, que uma vassoura...e uma varinha mágica.

Não tenho porteira, mas se tivesse, acho que a convencia a processar J.K.R. por plágio. Um escândalo.

Portugal - Finlandia

Não consigo perceber se Pepe me faz lembrar mais um macaco, um brasileiro subnutrido em quimioterapia ou um sobrevivente de Chernobyl.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A mulher e o(s) burrié(s): a possibilidade da equação

Caríssimo Sr. Motorista da Desentop - Desentupimentos e Limpeza de Fossas,

Calma. Comecemos pela palavra de ordem. É perfeitamente normal que esteja neste momento a questionar o porquê de lhe ter sido endereçada uma carta estranha, que nem é como aquelas que está habituado a receber das selecções Reader's Digest e outras empresas que tal, nem vem com o selo que a sua Tia Maria Luísa costuma pôr, sempre que lhe escreve com as novidades da terra. Ao contrário desses embustes (refiro-me obviamente aos primeiros, longe de mim faltar ao respeito à sua Tia), se ler isto até ao fim, já ganhou, pelo que lhe peço encarecidamente que o faça com a mesma atenção, e calma, com que aborda um cano cheio de merda até ao ralo.

Não nos conhecemos. Felizmente para mim, in- para si, nunca entupi qualquer tipo de fossa, pelo que a vida, até hoje, não nos tinha juntado. Minto, quanto à parte de não ter entupido qualquer tipo de fossa. Há coisa de um ano entupiram-se-me os canos da casa-de-banho e foi um cheiro que só Deus, e o Sr. Motorista seguramente, sabem. E eu, claro. Peço desculpa (pela primeira vez) por não o ter chamado.

O pensamento que o invadiu neste momento tem toda a razão de ser, já me devia ter apresentado. Não foi por mal, há qualquer coisa de heróico na sua profissão que me tira do sério. O meu nome é Zé, ou Zé Maria, ou Júdice. É a Santíssima Trindade do meu nome. Trocando por míudos, sou aquele gajo que lhe desferiu umas buzinadelas hoje, pelas 16:30, ali na António Augusto Aguiar, como quem vai para o Parque Eduardo VII. E aqui, aproveito para lhe pedir desculpa -este, o pedido original- pela segunda vez. Se, por um lado, a velocidade ridícula a que circulava me conferia o direito de barafustanço, não é menos verdade que o que se passou a seguir justificava as mesmas buzinadelas, mas por razões totalmente diferentes.

Creio que não estava no alcance do seu campo de visão, porque estava ao meu lado no sinal (lembra-se, aquele mesmo ao lado do Corte Inglês, que parece uma homenagem à subida à Senhora da Torre?), mas o que os meus olhos avistaram nesse intervalo de tempo acompanhar-me-à, espero eu, até ao fim dos meus dias. Do outro lado da estrada, no engarrafamento habitual daquele cruzamento, estava um Renault Clio cinzento metalizado. Claro que sim Sr. Motorista, isto não tem nada de especial, tenha calma, que já lá chegamos. Deixe-me gozar o prato (no fim do parágrafo seguinte, vai pensar nesta frase e vai emitir uma sonora gargalhada, como se fosse meu amigo de longa data).

Dentro desse Renault Clio estava uma mulher. Não era uma senhora, também não era uma miúda, era uma mulher, com os seus 30-35 anos, diria eu. Ora bem, essa mulher -não Sr. Motorista, não era boa comó milho, muito menos uma sereia fora dágua- até tinha bom aspecto, ou melhor, não tinha ar de bardajona, algo que, nos dias que correm, é salutar. Mal sabia eu, nessa altura, que estava prestes a ser bafejado pela sorte divina. (Não se esqueça da frase de há bocado, que afinal vou precisar de mais um parágrafo)

Pois bem, Sr. Motorista, estava eu a passar de relance pela dita mulher, quando me dou conta que a mesma tentava sacar das suas fossas...nasais, um molusco gastrópode de concha univalve, vulgo burrié. Exacto, logo aí, motivo de galhofa. Mas há mais, muito mais. Depois de lograr os seus intentos, não contente com o sucesso da sua empreitada, mirou o macaco, suspenso no seu dedo indicador, olhos nos olhos, encostou-o ao de leve -como que para prová-lo- no lábio inferior (a crueldade, senhores!), para, depois de uma ligeira hesitação, ingerir o dito, indiferente aos clamores de piedade do pobre coitado. Contudo, para minha simultânea estupefacção e encanto, a mulher não se ficou por aqui. Segura das suas convicções, viram os meus olhos, Sr. Motorista, preparou a mulher nova investida: mindinho hasteado de fazer inveja a qualquer tia wannabe chic, e lá foi ela em busca do macaco perdido. Uma vez sacado, sofreu o mesmo tratamento metódico, qual serial-killer, Sr. Motorista!, que havia sido aplicado instantes atrás ao seu irmão mais velho. Olhar observador, prova (como se de um Barca Velha, aquele vinho caro dos ricos Sr. Motorista, se tratasse) no lábio inferior, momento de reflexão e botabaixo. Eu não lhe disse que a frase ia fazer sentido?

Já em lágrimas, molhadas por aquele sentimento que invade uma pessoa quando sabe que acabou de ver algo único, chega o momento maquiavélico. Ainda de burrié na língua, eis senão quando o olhar da glutona se cruza com o meu. Drama, horror, pânico, todos os substantivos albarranescos que se consiga lembrar Sr. Motorista, transpareceram instantaneamente na cara da mulher. Como não sou mau, e como o sinal tinha acabado de ficar verde, achei por bem erguer-lhe o polegar e fazer um fixe, em gesto de "não estejas assim, isso é perfeitamente normal", mas sobretudo de agradecimento.

Sem se aperceber disso, o Sr. Motorista transformou a minha terça-feira num dia inesquecível, e tudo à custa dessa sua teimosia em embraiar uma terceira. A carta é, então, para lhe agradecer pelo excesso de zelo, dado que na altura não tive oportunidade de o fazer. Estava completamente atordoado, espero poder contar com a sua compreensão.

Sabia que elas faziam isto? Pois, eu também não. É verdade, hoje em dia está tudo maluco, sabe-se lá onde é que isto vai parar. Pelo andar da carruagem, tarda nada também se peidam debaixo dos lençóis para depois cheirarem.

Não o estorvo mais. Fica o meu singelo obrigado, e os votos de, como se costuma dizer no mundo do teatro e suponho que também no do desentupimento de esgotos e limpeza de fossas, muita merda. Se algum dia se cruzar com um Polo de matrícula 50-80-VE, buzine, como quando dois minis antigos fazem quando se encontram no meio de Lisboa. Pode contar com o meu sorriso de orelha a orelha.

Com estima,
Zé Júdice

Hard to forget

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Nada de especial

Que silêncio tão grande. No interior do silêncio mais silêncio e no interior do mais silêncio um relógio minúsculo a anunciar

– Já é tarde, já é tarde

de forma que nem reparamos nos ponteiros. Para quê se o relógio insiste

– Já é tarde, já é tarde

e nós a olharmos uns para os outros,
inquietos

– O que diz o relógio?

apesar de termos ouvido perfeitamente a sua vozinha apressada, nós de súbito com medo

– Tarde?

e o que significa tarde meu Deus, o que pretende o relógio? Mesmo tapando as orelhas com as mãos a teimosia permanece

– Já é tarde

mesmo não escutando mais nada escutamos o

– Já é tarde

não sabemos se no relógio se no interior da gente, olhamos em volta, olhamos para dentro à procura, achamos episódios antigos, um triciclo, um avô a espantar-se

– O que tu cresceste

um colar de pérolas

(de quem?)

numa tacinha, achamos a nossa vida de hoje e qual o sentido da nossa vida de hoje, o que fazemos com ela, dias atrás de dias, o supermercado, o jantar no restaurante aos domingos, a maçada das crianças às vezes e não era bem isto que nos apetecia, não era bem isto o que tínhamos desejado, falta qualquer coisa, onde é que errámos, o que falhámos, não somos infelizes mas também não temos o que secretamente ansiávamos, os anos vão passando

(– o que tu cresceste)

e não temos o que secretamente ansiávamos, de vez em quando momentos tão vazios, de vez em quando, mesmo no meio dos outros, uma solidão tão grande, um desamparo, uma sensação de queda, esta dificuldade em respirar, porque a mobília sufoca, que vem e desaparece e volta, de vez em quando, sem motivo, vontade de chorar, não lágrimas grandes, não soluços, uma coisa vaga, uma pergunta

– E agora?

sem resposta, caras familiares que se tornam estranhas, se te abraçar continuo sozinho, o que se passa comigo, o que se passa connosco, o relógio prossegue

– Já é tarde

monótono, acusador, implacável, os
objectos quietinhos sem nos ajudarem

– Porque não nos ajudam?

Nada nos ajuda, é tarde, tentamos conversar e é tarde, fazemos amor e é tarde apesar de termos feito amor na esperança que não seja tarde e depois, em lugar do prazer, ou misturado com o prazer, ou mais forte que o prazer, uma espécie de amargura que persiste, se não dilui, persiste, o

– E agora?

sem resposta aumenta, um

– E agora?

imenso, que horror, um

– E agora?

que nos preenche inteiros, se nos pegassem ao colo, fugissem connosco, nos
garantissem

– Não é tarde ainda

e pudéssemos acreditar que não é tarde ainda, tranquilizar-nos afirmando

– Não é tarde ainda

embora cientes que mentimos

– Não é tarde ainda

e tornar a mentira verdade, que outra coisa fizemos para além de tentarmos transformar as mentiras em verdades, não há ninguém mais crédulo que um desesperado

– O que tu cresceste

e em que direcção cresci que não dou por ter crescido, lá está o triciclo, lá está o avô, lá está o colar, os frascos de perfume que cheirávamos às escondidas, os cigarros que fumávamos secretamente no quintal, cresci para onde, cresci como, se nos metermos no carro, se almoçarmos fora, se te pegar na mão melhoramos e contudo

ficamos parados

a teimar no silêncio

(que silêncio tão grande)

– Já é tarde

e não é o relógio, somos nós

– Já é tarde

não noite ainda e contudo tão tarde, aproximamo-nos da janela, os prédios do costume na rua

(esperavas outros prédios, outro
bairro?)

e tão tarde, ganas de apanhar aquele cinzeiro e quebrá-lo no chão, de que serve apanhar aquele cinzeiro e quebrá-lo no chão, no espelho a nossa cara

– O que tu cresceste

diferente, a nossa cara e diferente, porquê diferente, o que é isto nos olhos, o que é isto na boca, a boca a ecoar

– Tarde

tal como os olhos ecoam

– Tarde

todo o corpo a afirmar

– Tarde

e quando o

– Tarde

diminui o

– E agora?

a dilatar-se nele, o

– E agora

imenso, sentamo-nos no sofá com uma revista, o jornal, um livro e as mãos vazias, apertamo-las uma na outra, espreitamos o triciclo, a certeza que se pedalássemos muito depressa não seria tarde, pedalar mais depressa que o relógio, os episódios antigos, aquela parente que nos oferecia rebuçados cujo papel não descolava e se nos prendia aos dentes, tentávamos retirar o papel com a unha e não saía, ainda nos lembramos do gosto do papel na língua, largamos a revista, o jornal, o livro, e ficamos no sofá, tanto tempo passado, com o papel na língua, a mastigá-lo, a mastigá-lo, a mastigá-lo, no fundo da gente nós mesmos a acusarmo-nos

– Porque me tornaste nisto?

o silêncio aumentou tanto que o relógio se calou, uma palma no nosso ombro

– O que foi?

e construímos peça a peça um sorriso
difícil

(custa tanto um sorriso)

que responde por nós

– Não foi nada.

António Lobo Antunes


Texto de ALA na edição da Visão de há duas semanas. Nunca o commonplace do vazio da meia-idade, da infelicidade silenciosa e da desilusão, fruto do cansaço de sonhar, foi descrito de maneira tão sublime, como se de um jogo, à vez, se tratasse. Acho que tá na hora de começar a ler livros deste gajo.

domingo, 18 de novembro de 2007

Obrigado, José Ruy

Recebo, do senhor meu pai, um livro que conta -em banda desenhada- a história da vida de Aristides de Sousa Mendes.

Abro o livro. Algo me chama imediatamente a atenção. A qualidade do dibujo? A acutilância da escrita? A textura sedosa do papel? Nada disso.

O que me fez ganhar o dia foi o facto de entre as obras do escritor, José Ruy de seu nome, de notório interesse cultural, como por exemplo "Pêro da Covilhã e a misteriosa viagem", ou "Humberto Delgado - O general sem medo", constar uma -seguramente a melhor, tal é a paixão bombeada pelo título- que sobressai logo numa primeira leitura. E sobre que tema versará tal B.D.? Hum...talvez seja sobre a vida do Eusébio, estarão uns a pensar agora. Não senhor, é com certeza sobre o legado cultural de Calouste Gulbenkian, coagitarão outros.

Quase. O nome da obra-prima é nem mais nem menos que "História (Actualizada) da Amadora - Levem-me nesse sonho...acordado!". Destaco principalmente o pormenor do "(Actualizada)", como se a história desse paraíso mesmo à entrada do IC19 fosse alvo de diversos escritos ao longo dos tempos, e urgisse uma actualização sobre os últimos, vá, 30 anos de glória dessa bela urbe. Delicioso.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

3



(...). A cegueira na ponta dos dedos. O magnetismo. Um beijo. O beijo

Mar adentro, mar adentro I


Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:

El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Treason

Arranjei uma amante.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Mental note

Must not skip church. It hurts.

Deus não é de vinganças, mas castiga pelas mansas.

domingo, 11 de novembro de 2007

No mobile, more fun

Perder o telemóvel deve ser condição essencial da minha bebedeira. Senão não é giro.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Paranormal (teatro II)


Antes de começar, gostava de deixar bem claro que odeio o Joaquim Monchique. Aliás, só levado, como fui, sem saber ao que ia, é que teria ido ver o monólogo que protagoniza (espectacular pleonasmo). Se me dissessem que estava a ir para um monólogo de duas horas com o Joaquim Monchique, preveria o pior. Para a pessoa que me estava a levar, claro está.

Mas ainda bem que fui (sem saber). No mínimo, surpreendente. São quase duas horas de um monólogo em que Joaquim Monchique veste a pele de várias personagens (entre as quais o próprio, Monchique, num momento genial e que confundiu a plateia durante um bom bocado, eu incluído), sem, imagine-se, parecer completamente roto.

A história, aparentemente absurda, de um medium que consegue encontrar pessoas desaparecidas das vidas dos seus clientes, acaba por ser muito mais do que isso. Dei por mim a rir-me às gargalhadas, mais do que uma vez, e tenho a minha gargalhada por bastante exigente.

Uma óptima peça cómica, e que prova que as aparências, às vezes iludem mesmo. E a companhia, essa, encontrou-se num olhar logo ao início, mas nem precisou de ajudar, que a peça era realmente boa. Só mesmo de acompanhar. E bem, refira-se.

Telmo'ing

Falta de chuva preocupa agricultores no Alentejo, que temem "fantasma" da seca

Desde pequeno, é sempre a mesma merda. Se chove é porque chove, se não chove é porque não chove, foda-se. De certeza que quem teve a ideia de pegar no Alentejo e transformá-lo num campo agrícola gigante, era bêbado, e dos grandes.

Deixa cá ver, o que é que eu vou fazer com isto...no Inverno faz um briol do cacete, no Verão ando aqui a jogar ao suado, água, nem vê-la, hum...ah!, já sei, vou plantar vinhas e cevada, sempre dá para matar a sede no verão e se tiver sempre com um pifo é da maneira que não sinto o frio no Inverno.

Um gajo minimamente lúcido teria pegado no Alentejo e feito uma piscina gigante (a maior da Europa, claro), onde no Verão seria possível saltar de uma prancha, também a maior da Europa. Durante o Inverno transformar-se-ia numa enorme pista de gelo, obviamente a maior da Europa, com a segunda maior árvore de Natal da Europa espetada mesmo no meio. Segunda? Sim, porque a primeira ia estar no Terreiro do Paço. Agora, cereais, azeitonas e uvas? Pfft, que falta de visão estratégica. Espero que seque tudo, pode ser que construam a piscina (não se esqueçam é da prancha).

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Sonata de Outono (Teatro I)


Fui ver na sexta-feira passada a estreia da peça, em exibição no São Luiz até dia 25 deste mês. Fruto da adaptação de um dos filmes mais aclamados de Ingmar Bergman, Sonata de Outono tem momentos -traduzidos em palavras e em gestos- de uma intensidade avassaladora.

A história gira à volta da relação entre uma mãe e uma filha, bem como da relação da última com o seu marido, num desenterrar progressivo de sentimentos tapados pelo avançar dos anos e pelo medo de magoar aqueles que amamos. É uma peça sobre a incompatibilidade do amor com o egocentrismo, assim como pela impossibilidade de fugirmos daquilo que se consegue entranhar verdadeiramente em nós.

Enquanto leigo a nível teatral, recomendo vivamente, but I must warn you, puxa para a lágrima. Já outros, seguramente mais entendidos no assunto, apontaram-lhe algumas falhas. É a chamada vantagem, ou talvez não, do véu da ignorância.

Ricardo, o moscardo

Ninguém acredita, mas tenho um moscardo que decide entrar no meu quarto quase todos os dias a seguir ao almoço. Dá umas voltas, manda duas ou três cacetadas na janela, quatro ou cinco na parede, e lá vai ele outra vez. É o Ricardo. Ricardo, o moscardo. Porque é que é o Ricardo, o moscardo, e não é a Clotilde, a varejeira? Porque é no meu quarto que o Ricardo entra, and for all I care, até podia ser o Wanderlei, o Elefante Larilas. Para além disso, não engana, tem moscardo chapado na tromba e no zumbido Ricardo. Um puro-sangue.

I guess this is as close as I can get to owning a pet for the time being. E o mais giro é quando ele me pousa no ombro e fica assim a zumbir baixinho, bzzt bzzt, a olhar para mim com respeito e admiração enquanto eu lhe acaricio suavemente as antenas com o dedo mindinho. Por acaso nunca fez isso, mas bem que podia fazer. Sabe lá ele a angústia que é para mim imaginar que um dia, depois do almoço, não vai haver zumbido e marradas no vidro, porque resolveu ficar a chafurdar num monte de estrume.

Aí tá o gajo. Ah...foi-se embora. Até amanhã Ricardo. Bzzt para ti também, pequenote. Tá sempre com os copos, o campeão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Post de merda (ou ode ao traque)

No post anterior escrevi a palavra traque, que para minha surpresa não constava do dicionário do browser. Uma pesquisa rápida na priberam online não só me deu razão, como me deixou cheio de vontade de dar vários traques de seguida, ou não fosse a palavra em questão definida como um estrépito produzido pela saída de ventosidades expelidas pelo ânus. Cada traque traz consigo uma indissociável intelectualidade e até uma certa beleza, se o definirmos desta maneira.

No fundo, abdicamos de parte do nosso "Eu" intelectual para criar algo de belo, para dar a oportunidade a alguém que esteja ao lado para dizer "Chiça, que belo estrépito produzido pela saída de ventosidades expelidas pelo ânus que acabaste de emitir".

Não só é arte, como é altruísta.

Growin'up (I figure)



A passagem de um homem à idade adulta dá-se num momento que tem tanto de especial como de imperceptível, thus -I can only guess- its magic. Não, não é quando a lei o diz, muito menos quando uma mulher o deixa. Nem quando compramos bebidas num supermercado com ar confiante, se bem que o princípio basilar tenha pontos de ligação: we evolve by repeating. Contudo, falta aqui o componente "mudança", catch 22 do crescimento.

Um espírito ligeiramente mais galifão talvez preparasse agora o comentário: "E se eu antes bebesse jola, e agora só comprasse vodka?". Lamento, caro amigo perspicaz, mas não qualifica.

Back to subject. Cheira a dogma, não cheira? No outro dia um amigo meu deu um traque e disse a seguir que cheirava a pão quente, foi tudo a cair na esparrela. Mas agora não cheira a traque, nem a pão quente, cheira a dogma. Sente-se, ou melhor, vê-se, logo.

A passagem à idade adulta, num homem, dá-se a partir da altura em que a primeira coisa que ele repara na mulher são...os olhos? seios fartos? pernas majestáticas? cabelos longos e sedosos? Nada disso, um homem atinge a idade adulta a partir da altura em que a primeira coisa que procura numa mulher é a existência, ou não, duma aliança tranquilamente alojada no dedo anelar, para preparar, ou não, uma ofensiva. Quanto às mulheres, tornam-se adultas mais ou menos a partir dos 7/8 anos, já que se desenvolvem muito mais cedo que os homens, como seres de luz, magia e cor que são. O momento certo em que se opera tal mudança, esse, é impossível de descortinar, pois é extremamente difícil atingir o plano metafísico e transcendente onde as mesmas se encontram a gravitar, superiores a quaisquer tipos de preocupações mundanas.

Como é bom ainda ser criança.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Super slo-mo

Então, como é que foi a noite de ontem?
2 litros de água, and counting.