segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Coisas II

Há coisas que não se podem dizer. Melhor, há coisas que certas pessoas não podem dizer, como se estivessem mancas da legitimidade conferida por algum poder socialmente divino, responsável pela atribuição do estofo que permite aguentar os quilos de responsabilidade, vergonha, ou medo, que pairam sobre alvos indefesos, à espera de uma palavra fugidia que lhes corte as asas para que possam desferir um ataque fulminante sobre as mais elementares -e frágeis- qualidades de um qualquer pobre coitado.

Ouvir o Ricardo, com aquela voz que demonstra que o tal poder divino não só não lhe deu o tal estofo como fez questão de o enxovalhar perpetuamente por razões alheias ao comum mortal, dizer que aguentou os últimos minutos do jogo do Bétis deste fim-de-semana, lesionado, porque "me recordei da canção e decidi aguentar para ajudar a equipa", é, já de si, ridículo. No entanto, os contornos ganham detalhe, espessura, inclusivé alargando-se até ao infinito, e mais além, quando se descobre que a música em questão era a versão espanhola do afamado hit de casamentos/trigonometria I Will Survive, de Gloria Gaynor, música essa que dá pelo nome de Resistiré, interpretada pelo Duo Dinamico, nome que, para os mais atentos, cheirará seguramente a imitação rasca dos sucessos imortais de Tsubasa e Misaki.

Se ainda fosse o Rocky a dizer isso, depois de desfeitear o Ivan Drago. Agora tu, Ricardo? Pior, só se acabasses as declarações com a palavra ceroulas.

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