quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Carla Bruna


Algures na Margem Sul, Carla Bruna lamenta-se da sua falta de sorte, insensível ao fastidioso discurso materno sobre a irrelevância do nome, "porque somos o que fazemos e não somos o nosso nome", e "porque devias ter vergonha, Carla Bruna. Eu e o teu pai demos-te tudo aquilo que nunca tivemos". Carla Bruna, ao ouvir isto, perguntava, num choro sofrido, "porque é que nunca me deram o i?era assim tão difícil, um i!", ao mesmo tempo que se lembrava que o único Eliseu que conhecia era um pescador que tinha amado, numa noite de quarto minguante, dentro de uma tenda qualquer na praia de Quarteira, durante quatro ou cinco músicas perdidas na discoteca de onde tinha saído ou algumas ondas distantes. E quanto mais se lembrava dessa noite, mais chorava e se queixava do seu azar, e mais a mãe duvidava das suas qualidades e da maneira como tinha educado a sua filha. Rapidamente entraram numa espiral de choro e protestos mútuos à volta de um i, espiral essa que cresceu tanto que a certa altura estava do tamanho da pequena vivenda onde viviam no Montijo, e Carla Bruna viu-se obrigada a sair de casa, com medo que a espiral destruísse o lar que os seus pais tinham construído com o fruto do seu suado labor. Estava decidida a remediar a tremenda injustiça divina que tinha sido nascer com um a em vez de um i, ela que até era jeitosita. Mais do que tudo, mais do que a espiral que serviu de desculpa à intempestiva saída de casa, tinha fugido por não suportar viver paredes meias com a fábrica da Nicola, instalada a 500 m de sua casa.

(a explicação para a espécie de conto)

Um i faz toda a diferença. Sim, um i, essa vogal esmigalhada pelo ae e ou. Um i pode ser a diferença entre o despoletar de inveja ou de uma troça desmedida. Um simples i. Quanto à história, por ter percebido que me fugia a olhos vistos das mãos, uso aquela ferramenta literária espectacular que passa por conferir ao leitor o direito de imaginar, especular e magicar, o desenrolar da história de Carla Bruna. No entanto, uma rápida pesquisa no Google por "Carla Bruna" revelou a existência de uma actriz pornográfica portuguesa com esse nome, o que, se pensarmos, faz todo o sentido. A cruzada de Carla Bruna tinha de ser financiada de alguma forma.

(a explicação para a explicação)

No fundo, só queria mesmo pôr uma fotografia da Carla Bruni. É que está na moda. Depois achei por bem fazer uma graça, mas dei por mim sem saber o que escrever, daí a tal espectacular ferramenta literária, ou ferramenta literária espectacular.

2 comentários:

Anónimo disse...

foi de longe um dos teus melhores post, ou um dos melhores intróitos a futuros contos.. quiçá, quiçá..

só foi pena não acompanhares a bruna do sarcózio de saltos altos, faria toda a diferença.

por trás de uma grande mulher está sempre um grande homem (ou não).

não é o "i", é a sua companhia recente e tambem de certa forma sua voz que fazem Toda a Diferença.

gajas boas há muitas, e brunas também.

lady maryan

Anónimo disse...

"sua companhia recente", leia-se Sarkozy.

"Saltos altos", basta ver com algum detalhe todas as fotografias em que o acima referido aparece de corpo inteiro (mais notório qd apoarecia ao lado da ex-mulher).

Por "grande mulher", leia-se no sentido meramente físico. Qt a tudo o resto só sei notar talento musical, sensualidade e uma certa propensão para se "apaixonar" ou deixar envolver com personalidades mediáticas. Quanto a esta propensão, creio que a sua "punchline" foi atingida com o polémico envolvimento com o Presidente da Républica da França: o Grande Sarkozy (desta vez no sentido aposto ao da Bruni - figurado).

Lady Maryan