segunda-feira, 20 de julho de 2009

Do Verão

(um café qualquer, daqueles cuja música de fundo consiste num contínuo tilintar de chávenas e pires por entre protestos fumegantes de uma cansada máquina de café, e onde o branco das camisas dos empregados se confunde com o amarelo dos seus dentes, por oposição ao sorriso genuíno e acolhedor com que recebem os clientes. No ar, cheira a folhados, a guardanapos de papel translúcidos e ao «salgado» da praxe)


- Boa tarde, amigo.
- Boa tarde, Rosé Mari. Então o que é vai ser?
- Vai ser um bocado de Verão, mas dos clarinhos faxavôr. Esse não; sim, esse, exactamente, o de Vila Nova. E dê-me também umas quantas marés vazias ao fim da tarde, aquela irresponsabilidade de quem sabe que o tempo é a prisão dos cinzentos, e meia dúzia de pores-do-sol que dão vontade de, já lá em cima a ir embora, largar tudo, tirar a t-shirt e voltar para só mais um mergulho.
- Aqui está. Mais alguma coisa? Estamos com larica hoje.
- Sim. O que é que tem de ressacas?
- Ressacas? Sou capaz de ter aqui alguma coisa, mas olhe que o Rosé Maria não se dá muito bem com isso.
- Eu sei, mas dê-me uma ou outra, para que aquele primeiro banho de mar me saiba pela vida e me faça perder uma tarde preguiçosa a pensar nas propriedades curativas da água salgada num corpo ressacado.
- O Rosé Mari é que sabe. Mais alguma coisa?
- Sim. Arranje-me aí uns fins de noite nos quais qualquer tipo de racionalidade tenha ido dormir por volta das quatro da manhã, e que valham não só por si mesmos mas também pelas gargalhadas reconstrutivas do dia seguinte.
- Eh valente. É tudo?
- Sim, já chega...pensando bem, não. Dê-me também aqueles pagodes dos jantares intermináveis - mas tão curtos! - no alpendre, o dobro da cerveja que achar suficiente, os meus amigos, uns brown eyes, e já agora qualquer coisa que ajude a disfarçar a cara de parvo com que me vou passear durante esses dias.
- Irra. Se calhar ficamos por aqui?
- Acho que não. O que é que tem de acampamentos, de idas aos Aivados para ir ver as minhas princesas, de enxovalhos na Mabi, de momentos no canal, esse fiel companheiro em todas as horas do dia, e de bidos, uns atrás dos outros, porque toda a gente quer e vai ser campeão do Mundo?
- Sou capaz de ter qualquer coisa. Algo más? - Javier Ponce, o empregado de balcão, era de origem galega, daí os espanholismos.
- Um comando, para que os dias em Lisboa sejam passados em fast-forward.

4 comentários:

Morales disse...

Caralho! CARALHO! Nunca mais chegam as férias. Há lugar aí pa mim??!! lol

Grande post!

Kiko Pedreira disse...

que saudades de 3 meses seguidos de destruição pura.

Anónimo disse...

carregaaaaaa

maisa disse...

;)