sexta-feira, 29 de maio de 2009



Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa


Pára. Agora grita. Mais alto. Não, ainda não chega, não te oiço bem. Não o faças com a voz, fá-lo com as entranhas, liberta-te das amarras que as sufocam, deixa-te de merdas. Grita, porque a continuares assim, nada ou pouco te restará para além de um arrependimento latejante composto pelo puzzle de "ses" e "ifs" que terá sido a tua vida; mais, alto. Agora corre. Desaparece desenfreadamente, perde-te compulsivamente, de ti e dos outros, e grita, grita até à catarse da rouquidão. Ganha asas e voa, nada até à tona à procura daquela inspiração de ar que te espera de cada vez que vens à superfície, e que é diferente e melhor do que todas as outras, para logo de seguida voltares a mergulhar sem outro rumo que não o teu. Faz o que quiseres, mas fá-lo impulsivamente, e mesmo quando for para abraçar a quietude, peço-te que esse abraço seja sempre por opção, que não seja um abraço medroso e comodista, e que em caso algum dure mais do que dois ou três fogachos. Faças o que fizeres, grita, corre, voa e nada todos os dias, ainda que por um momento apenas. E promete-me que nunca dançarás com a monotonia, nem ao som da sua voz monocórdica. Prometes-me isso?


(já agora, grande Doctor Wilson)

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