sexta-feira, 17 de abril de 2009

Menina Júlia


Gostaria de assistir a tudo e pôr tudo de pernas para o ar para ver o que se encontra no fundo. Penso que somos tão intrincados, tão profundamente dominados que não nos poderemos libertar sem antes incendiar e mandar tudo pelos ares, começando a partir do zero.

August Strindberg


Estreou ontem, no Teatro Nacional D. Maria II, Menina Júlia, de August Strindberg. Mais uma vez me assumo como um leigo, quanto a tudo em geral e no teatro em particular, pelo que o conselho que vos dou de irem imediatamente ver esta peça pode revelar-se um rotundo, por mais improvável que esse cenário me pareça, tiro nos pés.

Uma noite, entendida no sentido de um dia prolongado até à manhã seguinte, é a duração temporal da peça, onde Beatriz Batarda, a menina Júlia, se agiganta e se diminui constantemente de forma esquizofrénica. À excepção do princípio bucólico, o ritmo da acção é frenético, quase avassalador.

Brilhante. Uma tragédia disfarçada de comédia, num confronto contínuo e cru de classes e sexos, com diálogos geniais, interpretações ainda melhores, luz a condizer e aquela sensação irresistível que a percepção do abismo e pouco mais coisas na vida provocam a qualquer pessoa. Bem vistas as coisas, a fórmula é bastante simples: é a vida no seu estado mais cru, sem capas nem subterfúgios, com uma história de amor - o que é o amor? - que não o é, condenada ao fracasso. E no fim, como manda a vida, vem a redenção, venha ela de que forma vier. De puta madre.

E Strindberg tinha razão, os estados de alma e a comunicação não precisam de gestos, movimentos ou palavras, basta uma expressão no rosto. Ou duas, que se vão encontrando casualmente.

2 comentários:

cinderela disse...

Vou ver a peça esta semana, até porque n és a primeira pessoa a tecer uma critica possitiva em relação à mesma. Mas confesso que vou com poucas expectativas, uma vez q, da ultima vez que fui ver uma peça aclamadissima ( "de homem para homem", um monologo de beatriz batarda, de quem sou grande fã) tive uma grande decepçaõ. A peça era muito boa, sem duvida, ainda assim esperava melhor..

Cinderela disse...

Rendo-me totalmente à tua opiniao sobre a peça, é de facto muito boa! Beatriz batarda no melhor da sua esquisofrenia!