quinta-feira, 6 de março de 2008

Do sindicalismo


No outro dia, li um artigo numa dessas coisas gratuitas diárias que das 9 às 9:30 quase que chegam ao estatuto de jornal, para num ápice serem promovidas a lixo-que-caga-a-cidade-toda, artigo esse que versava sobre o sindicalismo, rectius, sobre a sua morte mais do que anunciada.

Vaticinava o autor, em tom meio trocista, o destino trágico reservado para o dito movimento, atirando para o papel esse dado científico que era o facto do filho de Carvalho da Silva trabalhar na PT, e não estar sindicalizado. Sinal dos tempos, dizia ele. Fofoquices sindicalistas aside, tenho ideia que apontava algumas razões, bem esgalhadas, merecedoras de um "epah sim senhor, realmente", como a globalização - essa madrasta que tudo justifica -, o individualismo, e a existência de cada vez mais trabalhadores sem contrato, entre outras, que presidiam a este requiem sindicalista.

Fico contente. Detesto sindicatos, greves, manifestações e outras desculpas para não trabalhar que tal, enfim, tudo o que envolva bonés, t-shirts, bandeiras bandeirinhas bandeiretas, crachás, camionetas e megafones espalhados nas ruas ao pé de minha casa. Tenho uma certa curiosidade em saber quem financia todo esse aparato manifestativo, curiosidade essa que esbarra, por enquanto, com uma enorme falta de paciência para investigar. Alguém me esclarece?

Quanto aos argumentos invocados, concordo, em parte, com eles (e com ele). Parece-me que o sindicalismo continua a (sobre)viver sustentado pela memória do 25 de Abril, memória essa que com o tempo se vai tornando mais distante e consequentemente mais frágil: são, na sua maioria, quase sempre os mesmos, cansados da famigerada luta contra a entidade patronal capitalista, mas mais do que isso, acomodados à boa vida que essa mesma luta, por ironia, lhes proporcionou. Esta falta de rotatividade e de sangue novo impossibilitam o aparecimento de novas ideias e a actualização de um - felizmente - desgastado sindicalismo.

Mas ainda existem outras duas razões, não despiciendas: o advento da depilação a laser, e sua generalização na sociedade, aliada aos enormes avanços verificados no campo dos utensílios de barbear - máquinas e gillettes -, bem como o aparecimento de lojas de roupa internacionais, que disponibilizam as últimas tendências da moda a um preço acessível. Com efeito, centenas de homens, mas também mulheres, que até há uns anos se viam obrigados a enveredar pelo sindicalismo, fruto de uma pilosidade facial abundante - seja na forma de bigode, seja de barba farta - e uma enorme tendência para camisas russas aos quadrados, podem agora decidir livremente se querem, ou não, passar os seus dias a defender os interesses dos trabalhadores da Lisnave e da Carris. E, pasme-se, a decisão tem sido: não.

Tanto pugnaram pelo fim da ditadura e pela abertura ao estrangeiro, que lhes saiu o tiro pela culatra, a criação virou-se contra o criador, o que não deixa de ter a sua graça. Benditos sejam, aloé-vera, lâminas de tripla acção e zara, por esta ordem.

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu querido zezinho acabaste de compensar a falha de não teres comentado o teu fim de semana em barça... Adorei... Acho q continuamos a viver com um esforçado recordar de um 25 de Abril, e principalmente de uma ditadura! E quanto mais tempo passa, menos se baseia em factos a memória desse ja distante tempo...
abraço

Anónimo disse...

Idem.

Cada vez escreves (e pensas) melhor.

Que orgulho do meu Zeinstein!

Lady