quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pequeno tratado sobre a bazófia

Prosápia, fanfarronice, vaidade, guisado feito com restos de comida, mais não são do que palavras ou expressões sinónimas de uma única característica: a bazófia.

Há quem a tenha a menos; outros há, que podiam fatiá-la e vendê-la embalada em grandes superfícies comerciais sem por isso correrem o risco de deixar transparecer um discreto pingo de humildade.

Explicações para essa peculiaridade de carácter? «Uma auto-estima exacerbada intrínseca», diriam alguns. Imediatamente, em dissonância, levantar-se-iam outros, barafustando que «não tem nada a ver com auto-estima: é uma questão de circunstâncias, um misto de envolvência social e familiar, que faz do bazofeiro um ser especial». Com o volume da discussão já bem alta e com insultos às mães alheias em mistura, um terceiro grupo tentaria impor serenidade, contrapondo que «ambos têm razão: a bazófia resulta de ambos». Virar-se-iam então as duas primeiras facções para esta terceira, acusando-a de oportunismo, e de não contribuir com ideias novas e produtivas para a descoberta da origem do bazofismo, «esse desígnio que os juntou» ali.

Já com o caldo quase a entornar, por entre punhos que se começariam a erguer, eis que surgiria Rosé Mari, qual paladino, num andar que teria tanto de tranquilo como determinado e sensual, empunhando na mão um singelo papel. Mas qual papel, perguntariam. Este papel:



- Está no sangue - anunciaria Rosé Mari, de forma quase axiomática, remetendo os presentes no auditório ao silêncio típico das grandes revelações. - Está no sangue, meus senhores - continuaria -, pois tal como as plaquetas impedem que um qualquer franganote se vanglorie do efeito de uma mera bofetada mal dada, os glóbulos brancos, vulgo leucócitos, fazem de polícia do nosso corpo, e ainda os encarnados*, vulgo eritrócitos, fazem de paquetes do oxigénio, também os basófilos *1, desempenham uma função vital no organismo humano: são eles que produzem e transportam, sobretudo para o cérebro, a bazófia, onde a mesma é tratada e aplicada ao pensamento e discurso de cada um.

Após ter terminado, contariam os presentes, ainda meio atordoados, que Rosé Mari desaparecera, sem quaisquer pretensões demiúrgicas, por entre uma nuvem de fumo, para não mais aparecer, deixando no ar um perfume que ainda hoje provocaria saudade.


* e este blog fica para a história como aquele que, pela primeira vez, snobizou os glóbulos vermelhos, até hoje impunes a esse processo que transforma todo e qualquer vermelho em encarnado.

*1 repare-se que a forma como a própria palavra é escrita, com "s", em vez de "z", denota um brasileirismo oculto, o que, pensando bem, está longe de ser uma mera coincidência, ou não fossem os brasileiros dos povos no Mundo com um dos maiores IB (índice de bazófia) per capita.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vi um artigo igualzinho na revista Science...

rosé mari disse...

lolol