terça-feira, 11 de agosto de 2009

Raúl Solnado


Morreu Raúl Solnado, um dos pais da comédia portuguesa. Vale a pena, para quem tiver tempo e vontade, recordá-lo um bocado aqui.

Tive a sorte e o privilégio de o conhecer pessoalmente, ainda muito miúdo, numas férias de Verão passadas no Algarve, e apesar de não ter mais do que 6 ou 7 anos, lembro-me distintamente do senhor, da simpatia que irradiava e do jeito natural de comunicar e fazer rir as pessoas que o acompanhavam. Lembro-me disso, e lembro-me também de um episódio.

Um certo dia, à entrada do hotel onde estávamos a dormir, e com o grupo de amigos da minha mãe todo reunido depois de um preguiçoso jantar, Raúl Solnado decidiu oferecer-me uma caixa de Fingers, talvez por achar graça ao puto reguila que eu, o Ia, era. Não tenho dúvidas que a sua intenção era a melhor, só que o problema foi que cometeu a ousadia de me oferecer a variante em chocolate preto, ignorando certamente que só 1 em cada 1.000.000.000 de putos é que gostam desse chocolate feito claramente a pensar nos ditos crescidos. Espero nunca vir a gostar de chocolate preto, há qualquer coisa na sua amargura que me assusta. Voltando à história, claro que aqui o Rosé Mari, para vergonha de sua mãe, fez saber prontamente ao mestre da comédia portuguesa que Fingers de chocolate preto não eram exactamente o seu cup of tea. He had it coming, convenhamos. Mais do que mimo, era sinceridade, e lembro-me que Raúl Solnado respondeu à minha saída com uma, mais uma - de tantas - gargalhada genuína, comprometendo-se prontamente a substituir a dita caixa por outra do meu agrado. Já a minha mãe preferiu adoptar, por momentos, o roxo para a cor de pele.

A questão resolveu-se, no dia seguinte, e depois de uma reprimenda maternal, com a entrega de um arrependido desenho, feito por mim, a Raúl Solnado (sabendo do meu talento para artes plásticas, e apesar de já não me lembrar do desenho, acho que era maior ofensa do que o comentário já proferido, tal era a minha falta de jeito para a coisa). Para minha surpresa, tinha à espera uns Fingers de chocolate de leite.

Partindo do princípio que aí em cima há banda larga, gostava de lhe agradecer, não só pelos Fingers, mas também pelas gargalhadas que dou a ver e a ouvir Gato Fedorento, Bruno Nogueira, Herman José e outros que tal. Sei que não se devem só ao sentido de humor deles, mas também ao seu, que os inspirou e marcou - e marcará - as gargalhadas de várias gerações. Aposto que por esta altura já o Barbas rebola pelo chão agarrado à barriga de tanto rir. Devia estar cinzento, senão Ele não o teria chamado.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom este texto :)

Morales disse...

Muito bom!

rosé mari disse...

muito agradecido!:)