terça-feira, 3 de julho de 2007

Breves considerações de (um) Erasmus

(Mais que considerações de Erasmus, são considerações do meu Erasmus.)

Façam-no, mas no 2º semestre, que chegar do período mais ocioso da vossa vida (negá-lo seria ridículo) para aulas é um choque que poucos serão capazes de aguentar.

Escolham uma cidade que vos ofereça tudo, ou uma que vos ofereça pouco, mas que vos permita viajar à volta. Não escolham uma cidade que vos ofereça tudo e vos permita viajar à volta. Ou escolham-na, se o vosso pai for o Abramovic.

Nunca se sentem ao lado de uma miúda que esteja sentada ao pé do mar (se puderem, façam até um desvio).

Não levem uma relação. Ou levem, se "não quiserem" fazer Erasmus (Erasmus é muito mais que isso, mas também é isso), ou se precisarem da desculpa perfeita para acabar com a mesma. Garanto, é infalível. Fazer Erasmus com uma namorada num indicativo telefónico diferente é como ir para a praia, em pleno Verão, de fato de ski vestido: das duas uma, ou se vai tomar banho nu -por dentro, e por fora- ou se fica a torrar ao sol. Contudo, se a relação aguentar sem afrouxar, casem-se o mais rápido possível.

Os metaleiros são uns mansos. Hiperactivos, é verdade, mas não fazem mal a uma mosca.

A superficialidade dos diálogos é um dos obstáculos mais difíceis de se ultrapassar. "Hola, que tal? Bien, y tu? También. De onde eres? Que estudias aquí?". Quem vos der mais que isto, não deixem fugir. No entanto, como quase tudo na vida, it takes two to make a thing go right, ou seja, há-que fazer por isso. Guardem as boas conversas que consigam ter sem ser na vossa língua materna, tal como os intervenientes nas mesmas.

Se conseguirem, vivam numa residência. Não o fiz, e arrependo-me. Aliás, passem um mês na residência, e arranjem uma casa depois. Não a partilhem com um francês, a não ser que queiram viver num esterco, e isto vindo da pessoa que vocês conhecem. Go for zee germans, simpáticos, civilizados e limpos.

Apaixonem-se. Encontrem alguém com quem possam conhecer a cidade, que no fim de tudo vos faça lembrar a mesma, que seja um porto de abrigo no meio da loucura. No fundo, alguém com quem possam partilhar a cidade. Façam-no sem entrar em ilusões de amor eterno, just carpe diem.

Se a fachada do vosso prédio estiver em andaimes, subam pelo menos uma vez por aí até vossa casa.

O pós-Erasmus não tem de ser uma depressão (esta frase parece retirada directamente de um livro terapêutico, foda-se Rosé). A primeira pergunta que toda a gente me fez, desde que cheguei, foi "então, triste/deprimido/na merda/whichever-sad-feeling?". A minha resposta é sempre não. não. não. Quanto mais rápido perceberem que é uma etapa da vossa vida, cuja duração sabem de antemão (logo aí as coisas ficam mais fáceis, porque é mais difícil ficar triste com algo que já sabemos que vai acontecer do que com o que nos apanha de surpresa), mais conseguirão aproveitar ao máximo essa fase, e perceber que Erasmus só acaba para quem quer. Citando uma pessoa, com quem só estive um par de noites em Barcelona, mas cujo blog li por acaso, por sorte, passado uns tempos, "não há maior viagem do que aquela que Erasmus nos leva a fazer dentro de nós". Tudo o que Erasmus vos fez ver, aprender, usem-no daí em diante. Façam da vida um Erasmus contínuo, sempre que possível. Com um ligeiro corte no álcool, por respeito ao fígado. Sair de Erasmus triste é uma estupidez, é sinal que não gostam da vida que levam no dia-a-dia. Well, I'm tired of playing of Dr.Phil.

Cozinhem com alho e bebam muita água.

Em comparação com as outras estudantes do sul da Europa, as portuguesas ganham aos pontos. Já quando se começa a subir no mapa, o caso muda de figura. Outra coisa interessante é que se transformam completamente quando saltam a fronteira, e aí, meus caros, a culpa é nossa. Gajo que come muitas gajas é o maior, gaja que o faça é badalhoca. Consequência? Fora de Portugal, as portuguesas tornam-se umas malucas (comparativamente com o que são em Portugal), o que torna as coisas muito mais divertidas, e honestas. Quando gostam, gostam, quando querem, querem, reduzem-se os jogos e as cabronices, sai toda a gente a ganhar.

E acho que é isto. Muchas gracias a todos. Ha sido de puta madre.

7 comentários:

tiago disse...

Tem o seu quê de "Sunscrean Song" este post, mas gostei.

rosé mari disse...

é verdade, há uns quantos "ou"s, entre outras coisas, que talvez não tivesse posto se nunca tivesse ouvido a sunscreen song.

El Pibe disse...

ainda bem que são breves senão nao lia nada disso

El Pibe disse...

agora depois de ler apenas faço um reparo, em vez de "fora de Portugal" mudaria para "fora do código postal..."

Matos disse...

muitas verdades! alguns disparates! que e essa merda do sunscrean song?

Antonio Gomes disse...

Oh yes, se eu queira definir Erasmus acabaste de o fazer de forma impecavel. Porém, se a atitude com que se deve encarar o mesmo deve ser esta, a realidade e os sentimentos que o mesmo desperta por vezes apanham-nos de surpresa. A ver vamos se consigo ter a mmesma reacção que tu quando voltar a terras lusas.
Grande abraço e as minhas desculpas de não ter postado algo mais cedo.

KIK0 disse...

pois eu triste tou e é impossivel, face a tudo o que se passou desde setembro, nao sair daqui triste. Tenho mais uma semana de Erasmus pela frente, mas vou fazer com que o espirito continue em Portugal! JUNTOS VAMOS TORNAR LISBOA A VARSOVIA DO OESTE EUROPEU!!!(sure..) kiko!