quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Aumento pedagógico

O Governo decidiu aumentar o IVA sobre o gás e a luz, dos anteriores 6% para 23%. A medida já entrou em vigor, e tem vindo a ser alvo das maiores críticas. Quer isto dizer que o Governo está a tentar colmatar a infindável dívida pública através do aumento da receita fiscal? Sim, mas não só.

Esquecem-se os portugueses, e talvez a mensagem política que anunciou o aumento, que o IVA é um imposto indirecto sobre o consumo, e que é suportado pelos regrados consumidores portugueses.

Pois bem, aumentando-se o imposto, o que é que se obtém? O berreiro do costume, é certo, mais uma oportunidade para os líderes sindicais reivindicarem o direito à reivindicação da reivindicada "luta" e, para além disso - não tão importante, é certo - uma retracção do consumo com consequente aumento da poupança.

Contraargumentar-se-á que a medida é cega, que se tratam de bens essenciais, que uma diminuição do consumo tem consequências também ao nível da procura e do crescimento económico, que retira competitividade às já pouco competitivas - mas muito trabalhadoras - empresas portuguesas, mas uma coisa é certa: poucos são os portugueses que se lembram que têm na mão a hipótese de combaterem esse aumento.

Mas como? Simples: sendo 17% mais eficientes do que no mês passado. Utilizando 17% menos luz e gás do que antes, reduzindo ao máximo o desperdício e os gastos supérfluos desses bens.

Contrargumentarão novamente os arautos da verdade que se isso acontecer não haverá aumento real de receita, e o Governo terá de ir ao bolso dos contribuintes de outra forma. Talvez, mas se a economia resultante desse aumento de eficiência se traduzir em poupança (e essa sim, deve ser incentivada pelo governo) de 17+n%, ou seja, numa poupança real, talvez essa talhada adicional acabe por nem ser necessária.

Sou dos que acredito que o povo português não foi o principal responsável pela crise que o País actualmente atravessa. No entanto, tenho também a forte convicção de que enquanto não nos convencermos que somos parte essencial da solução, não haverá Governo nem União Europeia que nos salve.

E, por isso, prefiro olhar para este aumento - talvez inocentemente - não como mais um ataque neo-liberalista selvagem do poder político aos portugueses, mas como uma medida de curto prazo necessária e que, se bem esmifrada, acaba por ter o seu quê de pedagógica. No meio de tanta desgraça e de tanto pessimismo, que se utilize a crise e as medidas a que a mesma - juntamente com a incompetência política e a devassidão no sistema bancário, nos últimos anos, de que Portugal foi alvo - obriga para mudar. Para melhor.

3 comentários:

Anónimo disse...

se tivesse uma revista publicava isto! muito bem! tb é por isto que gosto de ti! smart boy!chega de sermos queixinhas e pessimistas!

rosé mari disse...

e tens uma revista...a melhor que eu já vi :)

Caetano disse...

Para completar o teu ponto de poupança em casa:

http://www.adene.pt/ADENE/Canais/Projectos/LuzCerta.htm