quinta-feira, 25 de novembro de 2010

The wonderful world of storytelling for free

Perguntas-me, às vezes, porque é que tenho por hábito - eu diria que é quase mania - meter conversa com pessoas que não conheço de lado nenhum. Como costuma dizer uma pessoa de quem muito gosto, Homo sum, humani nihil a me alienum puto, o que, sem latinas sobrancerias, quer dizer qualquer coisa como "sou homem, e nada do que é humano me é alheio" ou, se preferires, tudo o que é humano me interessa, me fascina.

E é por isso que insisto - eu diria que é quase ponto de honra - em abordar pessoas que me são completamente estranhas. Por isso, e porque estamos cada vez mais habituados a falar cada vez menos com pessoas de forma desinteressada, ou melhor, sem outro interesse que não seja o prazer de conhecer alguém que, com toda a certeza, carrega consigo algo que o/a torna especial, distinto, único.

Mas o melhor de tudo isto é que essas pessoas, nas mais das vezes, estão dispostas a abdicar dessa enorme riqueza, desse centímetro/milímtero que as torna únicas e a que Kundera se refere, a troco de um simples "olá". No caso do senhor Manuel Monteiro, reformado de 75 anos que conserva o raro e egrégio hábito de utilizar o chapéu como forma de comunicação, "boa tarde" e um estender de braço foi tudo o que bastou para receber, em troca, o seguinte:

- Manuel Monteiro, homem sério e de pouco dinheiro.

"Quanto é que lhe devo?", perguntei-lhe. Olhou-me algo atordoado, não fez caso e seguiu a contar, em traços gerais - ou melhor, a repetir, que já a tinha contado (embora não directamente para nós) - a história da sua vida, as agruras da reforma, a tranquilidade da sua casa com quintal nos arredores de Lisboa, os sobressaltos da venda ambulante em Lisboa, enfim, as peripécias que a sua pacata vida lhe permite.

O tempo corria, e por isso vi-me forçado a atalhar a conversa e a forçar, um pouco a contragosto, o seu final. Contudo, não me fui embora sem antes ouvir o meu primeiro "Bom Natal" deste ano. Da boca do senhor Manuel Monteiro, homem sério e de pouco dinheiro.

4 comentários:

Anónimo disse...

tas a falar cmg? eu pergunto isso mas acho amoroso, e no caso do sr manuel apetecia-me traze-lo para casa, mas às vezes... pllllzzz tipo os taxistas e o futebol lol mas é mesmo tipico teu por isso eu gosto e a maioria das vezes acabo sp por me rir...

António disse...

Deitar conversa fora (ou, se quisermos puxar galões poéticos, ir à procura desse centímetro/milímetero que torna as pessoas únicas) é do melhor que há. Descobrem-se verdadeiras pérolas, inclusivamente no universo taxista. eu que tenho sérias dificuldades em lembrar-me do que almocei ontem lembro-me claramente do senhor josé luís silva que "anda nisto há 23 anos" e das suas opiniões surpreendemente esclarecidas (já para não falar que taxistas são revistas cor-de-rosa com rodas, é só puxar bem o assunto).

rosé mari disse...

Anónima: always..

Tó: hehe é verdade, com jeitinho descobrem-se maravilhas! E não há nada como rematar com um "Bom Trabalho!"

Mike disse...

Belíssimo post. Gosto de saber que não estamos sozinhos.